Abriu a porta de seu táxi, uma daquelas garotas desavantajadas das quais ele costumava zombar. O único aspecto que fez com que ele a reconhecesse (já que ele nunca se importou em lembrar das feias) foi uma pinta que ela tinha no canto da boca. Na época aquela pinta fazia com que ela parecesse ainda mais ridícula e era motivo costumeiro de zombação por parte de toda escola (a Dumbo de pinta no canto da boca), mas naquele dia só a deixava mais sexy. Ela tinha as unhas muito bem feitas e seus cabelos já não eram mais tão crespos, eram um tanto lisos (sem exagero), com as pontas encaracoladas. Seus olhos, grandes, estavam com um volume de maquiagem um pouco excessívo. Sua boca aparentava estár um pouco maior, e ela devia
ter feito cirurgia na orelha (que já não eram mais de abano).
Logo depois de Cíntia, entrou um ricaço charmoso e dinheiroso, de humor aparentemente agradável e jeito muito simpático. Cíntia estava linda como nunca.
— Ora Raul, é você.
— O mundo é pequeno, não Cíntia? Você está muito boni...
— Não, o mundo não é pequeno. É enorme por sinal. Nós é que somos muito sortudos, não é mesmo? Quanto tempo! — ela diz em tom sarcástico e caçoísta — Raul... quem diria...? Taxista...? Muita gente disse para você se preocupar mais com os estudos... Com todo respeito, essa não é a mais digna das profissões. Não é mesmo, meu amozinho? — a ultima oração foi direcionada a seu marido, é claro.
Raul olhou pelo espelho retrovisor e o que seus olhos encontraram foi uma Cíntia toda sexy, em pose maravilhosa agarrada no pescoço de seu Marido, tentando desabotoar o primeiro do botão de sua camisa.
— Epa! Aqui no meu táxi não. — e continuou constrangido — É... Er... Para onde é que vão mesmo?
— Então André... Esse taxista foi o popular da escola, despreocupado com os estudos, e o mesmo que por tanto tempo fez-me sofrer de quem tanto lhe falei — disse de modo discreto para que Raul não ouvisse.
— Vamos para a Rua Tal, OnlyForRich Palace.
André tentou dizer bem baixinho para Cíntia que ela parasse de pensar no passado, e sofresse por um amor platônico por um garoto que se tornou o que é hoje: um PROJETO de homem; barrigudo e com uma barba mal feita.
— Já viu aquela latinha no painel do táxi? As aparências mostram que ele dirige esse táxi velho o dia inteiro, tem refeições precárias, e quando chega em casa no final da noite senta no sofá com uma lata de refrigerante, assiste um pouco de televisão até dormir, algumas vezes no próprio sofá. É o que imagino de alguém com vinte e poucos anos, com aparência de quase quarenta. Olha essa barriga...
Por mais que André tivesse falado baixo, Raul não pôde deixar de ouvir, mas fez pouco caso. Preferiu ignorar já que não teria argumentos para desmentir sua vida profana.
"Como ela está bonita" pensou. "A garota da pinta está adorável, sensual, fascinante, encantadora, admirável... O completo oposto do que já foi.
Os dois saíram do táxi, pagaram a corrida, e foram-se. A última coisa que escutaram de raul, foram murmúrios.
— Deliciosa.
"Quer namorar comigo, Raul"
"Você é muito feia, garota, sai fora"
Como se arrependeu por não estudar. Como se arrependeu por ter recusado a proposta e ainda por cima, ter feito mal a garota.
Ele manteve sua atenção nas curvas e nas pernas compridas de Cíntia. Pernas muito bonitas. Seu rosto. A pinta. No canto da boca. Como estava bela. Raul, admirando seu rebolado e seus cabelos maravilhosos, se esqueceu de que no final daquela rua, passava o trem.
O acidente foi feio. E depois daquílo a única pessoa no mundo, que dele ia lembrar era ela. Mas, apesar de tudo, ela hoje está muito feliz, ao lado de seu galante esposo, que a trata como uma deusa. Bela como Vênus/Afrodite. Ele a consolou. Foi generoso e compreeensivo.
Mas volto a dizer... O acidente foi REALMENTE feio de ver.
Este texto foi retirado deste site, feito pelo Lucas:http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=1920
Quando o vi não pude deixar de publicar, está mesmo muito fixe .